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Correr na Cidade

Review Merrell Capra Sport

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Modelo: Merrell Capra Sport

Testado por: Tiago Portugal

Condições de teste: Cerca de 30k em trilhos técnicos e 30k em trilhos menos técnicos de terra batida, com alguns pedaços em alcatrão. Testado com sol, chuva e lama.  

 

Fiquei entusiasmado quando a Merrell me disse que ia poder testar a nova aposta da marca os Merrell Capra Sport. Visualmente este modelo é muito diferente de todas as outras sapatilhas que tenho, sendo que parece mais uma bota de montanha do que uma sapatilha de corrida. De acordo com a marca os Capra são inspirados nas cabras montanhesas, animais conhecidas pela sua agilidade na escalada de montanhas.

 

Utilizei os Capra Sport em 4 ocasiões, 2 vezes em sintra, num treino de 17km e noutro mais curto, na 1.ª etapa do Gerês Trail Adventure, 12k e num percurso de 10km por Monsanto. O que totaliza ao todo cerca de 60km de corrida com estas sapatilhas.

 

De acordo com a Merrell este modelo define uma nova categoria, o Speed Hiking, mas queria testá-los noutros ambientes e saber se os posso utilizar em corridas ou treinos por trilhos e em qualquer distância.

 

60km talvez seja considerado pouco para fazer uma review final mas ao fim de 4 utilizações nas mais diversas condições acho que as considerações que tenho agora serão as mesmas daqui a outros 60km com este modelo.

 

Design e Construção

 

À primeira vista os Capra não parecem uma sapatilha de corrida. A sua construção e robustez fazem lembrar as tradicionais botas de montanha e ficamos com a sensação se estas sapatilhas serão as mais indicadas para correr. Como referido a inspiração deste modelo está nos cascos das cabras montanhesas sendo isso particularmente visível no formato e design da sola, que tem uma divisão acentuada entre a zona frontal e traseira, com um desnível entre as duas partes que nunca tinha visto.

 

Os materiais utilizados na construção são de excelente qualidade, parte superior em couro sintético e malha ventilada, e ao fim dos testes efetuados as sapatilhas não tem nenhum sinal de desgaste.

A nível de cores a conjugação do azul com o verde resulta muito bem e torna o sapato um pouco menos pesado, em cores escuras sobressai mais o seu aspeto robusto.

 

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Conforto

 

Como já referi, este modelo parece mais uma sapatilha de montanha e são duros, cerca de 380 gramas, e pouco maleáveis ao início, mas “partem” com muita facilidade e com o tempo ficam muito mais flexíveis.

 

Os trilhos da Serra de Sintra foram os escolhidos para experimentar os Capra e apesar de inicialmente estranhar um pouco a dureza e o calçar os quilómetros iniciais foram feitos num constante sobe e desce que deu para testar a tração e estabilidade deste modelo. Nesse aspeto nota muito positiva.

 

Ao fim de 10km com eles calçados começaram-me a incomodar um pouco, não são propriamente umas sapatilhas leves e apesar de não ser um corredor dos mais rápidos, os Capra não respondiam com fluidez às mudanças de velocidade e direção, apesar de já estarem mais flexíveis ainda os considero um pouco rijos. O fato de serem um pouco mais altos do que o normal ajuda a que não entrem tantos detritos para dentro das sapatilhas.

 

Na 1.ª etapa do GTA 2015 senti ao fim de poucos quilómetros uma ligeira dor na zona plantar de ambos os pés, sensação que persistiu ao longo da etapa. Tendo eu um arco plantar alto necessito de um pouco mais de suporte do que o normal e em alguns caso de umas palmilhas que me deem esse suporte, sendo que as utilizadas neste modelo são finas e lisas.

Uma coisa que temos garantidamente com este modelo é proteção. Não precisamos de nos preocupar com o fato de pontapear pedras ou rochas, desde que não sejam pedregulhos, pois os dedos dos pés estão bem protegidos com uma ponteira dura em borracha.

 

Estabilidade e Aderência

 

Nesta matéria os Capra brilham intensamente, a sola Vibram® MegaGrip faz jus ao nome, em todo o tipo de piso onde testei este modelo a tração e a aderência foram sempre fantásticas. Seja em terrenos mais arenosos, relva, asfalto, pedras, tempo seco ou com chuva estas sapatilhas transmitem segurança e confiança. Basta uma descida para percebermos que não precisamos muito de nos preocupar onde por o pé, onde quer que seja a sola Vibram Megagrip vai corresponder.

 

Outra característica que salta logo à vista é a configuração dos tacos, apesar os 3,5mm de profundidade dos mesmos, a zona frontal é diferente do resto da sapatilha, fruto também da fonte de inspiração deste modelo. Durante as subidas o formato peculiar da sola resulta muito bem e o pé encaixa perfeitamente no contato com o solo permitindo uma passada segura e forte.

 

Em termos de estabilidade não tenho nada a apontar, o pé encaixa bem dentro deste modelo, o sistema de ajuste dos atacadores funciona bem e sentimos o pé preso sem estar demasiado apertado. A língua interior é boa, não incomoda nem sai do sítio, tudo o que se pretende.

 

A utilização de almofadas de ar no calcanhar (Merrell Air Cushion) permite absorver os impatos ao mesmo tempo que aumenta a estabilidade, o fato de terem um calcanhar elevado, à semelhança das botas de montanha, ajuda também a estabilizar pé, mas pode incomodar quem não está habituado a esta tipologia de calçado. 

 

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Amortecimento

 

Apesar do seu aspeto mais robusto e da utilização do sistema UniFly na entressola (permite dispersar os impactos e proporciona estabilidade extra para decolagens sólidas) o amortecimento dos Capra não é exagerado.

 

Para quem gosta de sentir o chão e ter a sensação de contato este modelo apesar do amortecimento favorece essas sensações, em alguns casos para mim até se sentem demasiado as pedras na sola do pé.

 

 

Preço

 

Este modelo tem um preço de venda ao público de 109,90 €.

O valor enquadra-se dentro do praticado e justificam o valor se soubermos exatamente aquilo que pretendemos fazer com sapatilha, montanhismo, Speed Hiking, e em alguns casos trail running.  

Este modelo está disponível nas lojas próprias da marca espalhadas pelo país.

 

Avaliação Final

Design e Construção: 14/20

Conforto: 13/20

Estabilidade e Aderência: 18/20

Amortecimento: 15/20

Preço: 14/20

Total: 74/100

  

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Serão estes Capra feitos para correr em trilhos? Acho que não será onde brilharão mais, e mesmo a Merrell afirma no seu site que este modelo é mais para a prática de Speed Hiking.

 

Dão para correr? Claro que sim. Como pontos positivos tem a fantástica sola Vibram Megagrip, o pé está seguro e estável dentro das sapatilhas e a proteção dos dedos é das melhores que conheço.   

 

Faltam-lhe algumas características para serem umas sapatilhas para correr durante 20-30km por trilhos e certamente não será o modelo certo se pretendem ir rápidos.

 

Mas se pretende fazer montanhismo, subir uma qualquer encosta de forma rápida, ou privilegiam a proteção e estabilidade e não se importam com velocidades os Merrell Capra podem ser uma boa aposta.  

 

GTA15: reflexão final

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Momentos de convívio...

Por Bo Irik:

 

A alegria e dor vivida durante uma prova de quatro dias e cem quilómetros em equipa é de facto desafiante de transcrever em palavras. Tentei fazê-lo em dois, os primeiros dois dias e os últimos dois, em termos de percurso / organização, desempenho, alimentação e calçado / material. Gostaríamos também de partilhar algumas considerações gerais acerca da Peneda-Gerês Trail Adventure, na nossa (minha) opinião.

 

Acerca da questão das equipas, achei o conceito fantástico. De facto, na minha vivência, o trail running é uma modalidade de união e entre-ajuda, diferenciando-se assim da corrida de estrada. Uma prova por equipas vem reforçar esta ideia. Segundo a organização, uma das ideias por detrás deste conceito é a segurança, pois a prova passou por zonas perigosas, tal como puderam ver nalgumas imagens, e fazendo-a em equipa torna-a muito mais segura, tanto em caso de acidente, como para evitar acidentes.

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Zonas perigosas, quase impossíveis de fazer a solo...

 

Desta forma, a organização impôs um limite máximo de 60 segundos entre a passagem dos diferentes elementos de uma equipa nos pontos de controlo. Gostei muito desta ideia mas, na prática, na minha opinião houve poucos pontos de controlo e caso as equipas se separassem, como vi acontecer nalguns casos, haveria atletas a fazer a prova sozinhos. Assim, embora tivesse adorado a ideia das equipas, a falta de rigidez no cumprimento do regulamento resultou em participantes a solo (note que o GTA poderia ser realizado a solo apenas por atletas detentores de 3 pontos ITRA numa única prova, após 1 de Janeiro de 2013, ou mediante apresentação de curriculum aceite pela organização).

 

Vi algumas equipas a separar-se. Algumas de boa vontade por todos os elementos, outros nem por isso. Na verdade, ao passar tanto tempo na serra juntos, tantas horas, e sabendo que nem tudo será um mar de rosas, a escolha da equipa deve ser feita de forma muito cuidada. Felizmente, posso dizer que, no nosso caso, isso aconteceu. Escolhemos três elementos que, embora tivessem ritmos e capacidades distintos, se dão bem e complementam-se. O importante mesmo é motivar-nos mutuamente nos momentos mais difíceis e ajudar a cada um a atenuar as suas fraquezas e enaltecer capacidades. 

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A envolvência das comunidades locais - abastecimento em Cabril

 

Em relação à organização deste grande evento gostaria de partilhar os pontos positivos e alguns a melhorar, que é interessante tanto para a organização como para (futuros) participantes.

 

Pontos positivos:

 

- Convívio: o convívio entre atletas e entre estes e a organização nesta prova  foi brutal. Acredito que houve vários fatores que contribuíram para tal. Primeiro, o facto de ter poucos participantes, cria um ambiente mais íntimo. Segundo, o facto de ter várias etapas faz-nos cruzar com as mesmas pessoas vários dias. Nós conhecemos por exemplo duas equipas, a do “Alexandre e Filipe” (nunca sabíamos quem era quem) e a do Ricardo, Cláudia e Fátima, porque tinham um ritmo parecido ao nosso e partilhamos uns belos kms juntos. É claro que também dentro de cada equipa há convívio, pois a maioria das equipas veio em modo “Road Trip”, partilhando, para além da corrida, também, o alojamento, viagem e refeições. Por fim, a Pasta Party depois de cada etapa tornou-se um ponto de encontro pós prova para reabastecer e socializar.

 

- Vertente internacional: achei muito interessante conhecer pessoas de outros países que partilham a mesma paixão pelos trilhos. É giro para partilhar experiências, planear desafios internacionais, conhecer novas marcas, etc. Descobri, por exemplo, que em Singapura há muito pouco espaço para  praticar Trail e que, assim, torna-se difícil fazer treinos longos sem andar às voltas. Sim, houve um singapuriano, o San Siong, que veio de propósito a Portugal para o PGTA!

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A beleza da Serra

 

- Paisagem: não tenho palavras para descrever tamanha beleza E dureza. Serra do Gerês é um paraíso de trail! 

 

- Partida / Meta: esta zona tem um encanto diferente das partidas / metas habituais. Primeiro por ser no centro da Vila do Gerês e, também, porque a organização a deu um toque especial: uma passadeira vermelha, música emocionante e um apresentador para animar ainda mais estes momentos marcantes de uma prova. 

 

- Equipas: conforme já indiquei, adoro a ideia da prova ser por equipas, por motivos de segurança e união, mas a organização poderia ser mais rigorosa na implementação do regulamento.

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Sentimo-nos pequeninos perante a imponente natureza

 

Pontos a melhorar:

 

- Acesso à informação: durante as semanas antes de prova, para além do regulamento, ainda não tínhamos acesso à informação detalhada sobre os percursos (i.e. altimetria e abastecimentos). A organização alegou que nos enviou a informação por email, mas nenhum elemento havia recebido algo, nem outras pessoas. No dia da entrega dos dorsais, houve gente a tirar fotos à uma folha A4 na parede onde contava a altimetria. Nós, entretanto, conseguimos colocar os ficheiros GPX recebidos no Google Maps e dessa forma decifrar os abastecimentos… Sinceramente até gostei de ter corrido sem saber ao certo a localização dos abastecimentos e a altimetria, foi um desafio extra : )

 

- Massagens: chegar às 18h00 depois de uma prova de 35km e ter que esperar duas horas para uma massagem e ainda ter que pagar por ela para mim é inadmissível. Até nas provas de 20 e tal kms costumam ter massagens. Numa prova por etapas com uma dureza destas e ainda por cima com relativamente poucos atletas, sinceramente estava a contar com uma massagem de 10 minutinhos no final.

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Partida numa aldeia diferente da Vila do Gerês, no segundo dia, permitindo conhecer uma zona diferente da Serra

 

Posto isto e tendo em conta o que escrevi em posts anteriores, é óbvio que o balanço final é MUITO positivo. Já disse e volto a repetir: já marquei as datas do GTA16 na agenda. Será uma prova prioritária perante todas as outras. É a mais desafiante, a mais dura, a mais bela, a mais unida e a com mais amizade. É a melhor!

 

Vamos?