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Correr na Cidade

Race Report: Monte da Lua 26K

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Por Luis Moura :

 

Confesso que o Monte da Lua no ano passado não me entusiasmou e apenas compareci na prova para apoiar a Liliana que fez o seu primeiro trail oficial na edição de 2014. Este ano, apareceu a oportunidade de fazer a prova e fazer um treino rápido no mesmo espaço físico e temporal e aproveitei. Tudo começou com o tempo muito similar entre o ano passado e este... e as semelhanças ficam por ai...

 

Viagem e preparação

No início da semana, no treino das Escadinhas do João Campos tive a confirmação dolorosa do que estava a sentir há uns dias, estava com a forma muito em baixo. Desde o OMD que tenho estado muito relaxado nos treinos e isso nota-se.

 

Depois do wake up call do treino de terça-feira, decidi fazer um treino "longo" na quinta e depois uma incursão em trilhos no Sábado ou Domingo de maneira a ajudar a preparar os 56K de Óbidos no primeiro fim-de-semana de Agosto. Quinta fiz um treino rápido pelo meio de Lisboa ás 17:30 com quase 19km em 1:32h, e senti-me óptimo depois deste puxão de orelhas que dei a mim mesmo. E de seguida consegui conciliar espaço temporal na família com um dorsal fresco para ir aos 25K do Monte da Lua e não pensei duas vezes. Se no ano passado tinha ficado curioso com a prova devido aos relatos que me tinham feito dela e sabendo eu uma boa parte por onde passaram os participantes dos +50K, eis que cai nos joelhos a oportunidade de ir correr lá. Optei por ir fazer um "treino" rápido na prova dos +20K ( que foram 27km ) em vez de massacrar as pernas no evento dos 50Km. O Tiago foi fazer a versão longa e vai fazer o seu race report da prova que passa por sítios lindíssimos no centro de Sintra.

 

Saí de casa às 7 da manhã com estimativa de chegar à praia das maças por volta das 8, com 45min para levantar dorsal, vestir e aquecer com tempo. Mal passo as portagens da Vasco da Gama, trânsito quase parado!!!! PÂNICO!!! Que é que se passa aqui a esta hora?!?!?

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Podem ver na foto o aspecto da VDG às 7:15 da manha !!!


Com isto perdi 15min em cima da ponte devido a "manobras de treino" da GNR que tinham 2 motas a percorrer a ponte a 15km/h desde a GALP até quase a EXPO... Depois foi acelerar um pouco o passo e tentar não perder mais tempo. Chegada à praia e procurar estacionamento no meio das centenas de carros que já lá estavam por esta hora. Por volta das 08:20 já vestido desci para levantar o dorsal e ir até à partida cumprimentar os amigos que iam participar nos +50KM.

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Saida +50K. Cheguei mesmo em cima da hora e só consegui falar com 2 ou 3...


Prova
A partir das 08:40 o Paulo Garcia esteve uns minutos a falar sobre a prova, percurso, dificuldades, abastecimentos, etc. Problema é que os atletas que estavam na partida mesmo junto ao pórtico não conseguiam ouvir. O som das colunas estava baixo e o burburinho constante da malta a falar na partida fez com que não se ouvisse nada. "5...4...3..." what?!? era a contagem para a saída e fomos quase todos apanhados desprevenidos.

 

Arranquei uns 3 metros atrás do pórtico o que fez com que umas dezenas largas de atletas ficassem na minha frente naqueles quase 200metros iniciais na areia da praia. A experiência do que tinha visto no ano passado dizia-me para saltar logo para a frente da prova e foi o que fiz. Andei a fazer slalom na areia e todo o terreno depois de passar o riacho, enquanto a malta fazia fila para não molhar os pés.

 

Mal acabamos a subida os primeiros seguiram em frente e pensei "bem, este ano fizeram pequena alteração ao traçado e não viramos logo á esquerda". e seguimos... ao fim de 200 metros comecei a achar estranho seguirmos tantas fitas para sul e até que chego junto de um Salamandreco e começamos a falar... "Estamos a ir mal!!!".

 

Quando chegamos ao entroncamento mais à frente onde estávamos no alcatrão, uns 500m depois da partida, decidimos parar e virar à esquerda para regressar ao trajecto "planeado"... alguns que estavam connosco diziam "mas as fitas estão a seguir por ali"... e nós respondemos "é por ali!!!". começamos a correr e descemos a encosta pelo meio dos arbustos até que vimos as fitas de saída correctas.

 

Por esta altura apanhei-me sem querer em primeiro lugar da prova já que os 10 primeiros seguiam uns dezenas de metros à nossa frente quando decidimos mudar de rumo. Pensei para mim "deixa seguir e ver quanto tempo aguento". Não fui muito, foram apenas 2km e tal na frente do pelotão mas deu para me divertir imenso sozinho com o número um escrito na testa enquanto passava por algumas pessoas a ver a prova :) achei divertido a situação. Por esta altura estávamos a passar o km3 e a fazermos médias de 4:50/4:55 no sobe e descer rápido.

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Na subida inicial fresquíssimos


No km4 já estava em 9º do pelotão e mais um km á frente já rolava em 12º. O início da prova estava muito forte com 4 corredores lá na frente a imprimir um ritmo alto e a desaparecerem rapidamente da vista. E com isto apanhamos os últimos atletas da ultra antes de chegar ao km5 e antes de chegarmos ao sexto já tínhamos vários atletas da ultra para trás. Isto antes de entrarmos na serra e nas subidas a sério!


Chegamos ao 1º abastecimento por volta do km 8 onde existia a separação das duas provas e estava uma pequena confusão, mas "gerível". Meti água nos dois bidões que estavam quase vazios devido ao bafo constante que a prova estava a ter, sem sol mas com um bafo quente e muito húmido ao mesmo tempo. Sensivelmente 43min aos 8km era o ritmo a que íamos até aqui.


Começamos a primeira subida e o ritmo diminui logo. Nesta altura comecei a sentir as pernas um pouco pesadas e abrandei. Fui por lá acima pela pista de BTT sem stress e tranquilo. Cerca de 3km quase sempre a subir e depois 2km muito rápidos a descer quase metade da altimétrica ganha antes. Perto do km 15 cheguei ao abastecimento dos sólidos depois de 2km a subir calmamente e sem stress. Nesta zona da serra com poucas árvores e com o muito nevoeiro que estava dificultou a progressão devido aos óculos completamente embaciados e cheios de . Tive que andar uns bons 3km gotículas sem eles para ver melhor. Pedaço de banana e tomate com sal, água nos bidões e siga para bingo.

 

Entramos numa das zonas mais lindas da serra, com uma descida pouco superior a 1km no meio de arvores e flora verde incrível. Piso muito escorregadio devido à lama e à caruma, mas fantástico para descer até à N247 onde entramos num estradão descendente para as falésias. Só com fotos conseguimos descrever o que se consegue ver ali...

 

Sobe e Desce

Depois de passar a famosa N247, foi pouco mais de 1km com inclinação razoável até entrarmos no inicio das arribas. Quando cheguei lá ia um pouco cansado mas quando me apercebi que o terreno estava extremamente seco e escorregadio, deixei-me sossegado e fui devagar no sobe e desce até ao Cabo da Roca. Foram 2km tranquilos a ritmo calmo e sereno onde deu para apreciar algumas paisagens por onde íamos passando. Quando íamos a subir a encosta que desembocava no Cabo da Roca os turistas a passear e tirar fotos olhavam para as nossas figuras sujas e muitos não conseguiam impedir de fazer um sorriso maroto de gozo ou de entretimento.

 

Chegamos ao abastecimento de líquidos por volta dos 20km na saída do Cabo e estavam lá alguns Salamandrecos conhecidos. Depois de encher os dois bidões e perder uns segundos na conversa, foi altura de continuar o passeio nas arribas.

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Abastecimento dos 20km. Muito abafado aqui a prova

 

Quase 3km de sobe e desce onde passou por mim a primeira classificada feminina que estava a fazer o primeiro trilho dela!


Ainda lhe dei uma força numa das subidas e quando chegamos ao topo eu retomei o meu passo calmo de passeio e ela começou a correr por lá fora. O meu objectivo principal era fazer os primeiros 15km rapidamente como treino e depois tudo o que viesse era extra. As arribas estavam bastante perigosas e achei melhor nestes km não abusar nas subidas e descidas e segui tranquilo.


Pouco depois do km23 entramos na estrada que ia para a praia da Adraga e quando chegamos ao estacionamento da mesma, fitas apontavam para uma subida à direita íngreme em areia... Não sei porquê, comecei a subir  e quando cheguei lá acima, comecei a correr. Estava bem, descansado dos últimos km a ritmo muito ligeiro e fui. Foram quase 2km rápido a percorrer a parte superior da praia, ora alternando com areia dura ora com areia mole. Deu para rolar pouco acima dos 6/km incluindo um troço de areia mais mole que fiz a passo.


Pouco depois cheguei aos famosos degraus do dinossauros e percorri os degraus todos até lá abaixo ao inicio da praia grande sempre a correr. Tirando a parte do ser doido, subir e descer escadas é uma coisa que fazemos agora todas as semanas e por isso estamos à vontade neste terreno. Por esta altura já tinha ultrapassado 3 dos atletas que me tinham passado quando ia a passo nas arribas e apanhei mais 2 quando entrei no areal. Chamei-os para junto de mim já com um claro indicador de estarem cansados e lá fomos os 3 quase 1km pela praia até ao Hotel e a sua fantástica piscina que quase nos convencia a ficar ali a molhar as pernas!


Depois de sairmos da areia ainda tentei colocar os meus 2 novos companheiros de aventura a correr mas disseram que estavam bem assim e arranquei. Fiz o últimos km e meio a bom ritmo pela encosta e depois na areia da praia. Estavam algumas pessoas a assistir junto à meta das quais algumas tartarugas saltitantes bem solidárias e passei a meta tranquilamente. Tinha a roupa completamente encharcada desde o meio de Sintra e assim ficou até bem depois de passar a meta. Aquela humidade é diabólica.

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Chegada tranquila na meta


No final deu 3:46h de prova e um 47º lugar da geral. Para mim foi um bom treino rápido, onde estive 9 dos 27km abaixo dos 5/km e 11 acima dos 10/km. Tranquilo e teste feito para aferir de alguns pormenores a treinar estes próximos dias com vista os 56K de Óbidos.
Se fosse em modo competição dava perfeitamente para retirar 30/40min ao tempo final, mas não era essa a guerra do fim-de-semana.

 

Horizontes


Depois da brutal prova que foi o Oh Meu Deus em Seia, esperava que com o feedback do ano anterior, a edição deste ano do Monte da Lua melhorasse na qualidade geral da prova, que já tinha sido bastante interessante.


Do que eu vi e pude comprovar durante a prova curta e andando no primeiro sexto do pelotão, corrigiram alguns erros do passado mas apanharam outros novos este ano.


O percurso tem de tudo. Desde estradões, até subidas de pistas de BTT, passagem por locais históricos, bosques lindos e trilhos altamente técnicos e de difícil progressão. É de facto uma montra viva do que se pode encontrar na maior parte dos trails em Portugal. Sol e nevoeiro. Deserto e água abundante. Uns gostam mais de umas zonas do que outras, mas dá para tudo e no geral fica com uma dificuldade interessante.

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As marcações este ano estiveram perto do óptimo, mas pelo que já pude ler na "radio facebook" terá existido algumas sabotagens bem conseguidas em alguns pontos estratégicos e isso cria sempre alguns problemas ás organizações. Alguns atletas a serem perturbados com isso mas começa quase a ser "moda" existirem estes problemas em várias provas. Teremos todos que reflectir sobre vários aspectos que originam estes actos.

 

Os abastecimentos, esse monstro de duas cabeças, nunca vai reunir consenso. O que é expectável é que apresente sempre pelo menos o mínimo indispensável a que todos os atletas consigam progredir na prova. Agua e algo sólido para ajudar na progressão nos locais onde é suposto lá estar. Pelo que ouvi de outros atletas, em alguns pontos os abastecimentos foram curtos para os últimos participantes que quando chegaram lá já não haveria mais. Assunto que novamente tem que ser discutido e verificado o porque de acontecer e prever que não se repita em outras edições. Quando cheguei ao abastecimento de sólidos da prova curta não faltava fruta diversas e comida sólida. Se bem que nunca é fácil prever ao milímetro as quantidade a colocar em cada ponto, devemos sempre tentar que não aconteça.

 

Não sei quantos atletas efectivamente arrancaram no total das provas, mas pareceu-me que na prova dos +20km estava muita gente na partida. Quando cheguei ao topo da primeira subida ao fim de 1 minuto e pouco de corrida, ainda havia malta a andar depois do pórtico de partida...  Para  bem da prova e da serra, reduzir os inscritos pode ser benéfico. Mais fácil de gerir as pessoas na serra, os abastecimentos e os impactos que se deixa pelo caminho tal como tinham anunciado e bem no site da prova.


No geral gostei imenso da prova. Achei muito interessante o mix entre a serra e as arribas. O "frio" mais carregado no meio da Serra e o calor abafado em algumas encostas. As imagens fantásticas das escarpas a pique ao lado de onde passamos.
O tempo poderia estar um pouco mais aberto para nos apercebermos melhor dos sítios por onde iamos passando, mas se calhar também foi por isso que a prova não foi muito mais difícil de fazer. E aparentemente esteve quase igualzinho ao do ano passado. Coincidências :)

 

No próximo ano talvez volte para fazer a prova completa e passar pela Quinta da Regaleira que é fantástico.

 

O meu obrigado à Horizontes pela fantástica manhã que nos presenteou. Mais pancada/menos pancada, o resultado é muito positivo e um trilho a recomendar com dificuldade média. Não é para iniciar no trail :)

O meu muito obrigado também aos diversos fotógrafos que fomos encontrando pelo caminho e que foram tirando milhares de fotos nestas paisagens magnificas.

 

Até Óbidos e bons treinos para todos :)