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Correr na Cidade

Um desabafo e race report do Ultra Trail de Conímbriga Terras de Sicó

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Por Stefan Pequito:

 

Como muitos sabem, há uns dias atrás completei mais uma prova acima dos 100km, o Ultra Trail endurance de Conímbriga Terras de Sicó. Disso já falarei. Antes quero fazer um pequeno desabafo. Desde que fiz a Ultra dos Pirenéus tenho vindo a analisar o que quero do mundo do Trail e da competição neste mundo. Algo que antes dessa prova não ligava muito, mas depois, e com a convivência com o David Quelhas, fiquei “picado” pela vontade de levar as coisas mais a sério.

 

Comecei por ver o que queria para 2016. Um dos objetivos era voltar aos Pirinéus para corrigir os erros que fiz no ano passado. Em termos alimentares tenho falhado muito durante as corridas e no caso dos Pirinéus não comi quase nada durante toda a prova e, claro, aos 74km “morri” completamente.

 

Fui chamado à “atenção” várias vezes pela médica da prova que me aconselhou a desistir já que a minha tensão estava mesmo “marada”. Dormi e comi um pouco e consegui acabar a prova. Claro que já não consegui terminar nos primeiros 50 lugares e fiz uma mísera 99ª posição. Por outro lado, todas estas adversidades fizeram-me acreditar que sou capaz de mais e que tenho de trabalhar para isso.

 

O meu segundo objetivo para 2016 é realizar o sonho de voltar aos “meus Alpes” para bem perto de onde nasci, Suíça, e fazer o Trail Lavaredo em Itália.

 

No meio deste planeamento todo para 2016, e apesar de estar inclinado a ir fazer a Ultra Canárias, tendo em conta os preços que estavam muito elevados e após uma reflexão, cheguei à conclusão que ficaria para outra altura e achei que Sicó seria a melhor opção, uma prova com ritmos altos e uma dificuldade “supostamente” baixa.

 

Como referi, 2015 foi um ano de aprendizagem, com alguns pódios em provas pequenas e uma 3ª posição numa Ultra. Mas provas em que os ritmos de competição eram resumidos a 4 a 5 pessoas (sem falar mal de ninguém, claro). Isso permitiu-me ganhar algum gosto pelo "pódio" e também ganhar gosto por provas de 3 dígitos, às quais me quero dedicar mais.

 

Mas nem tudo tem sido fácil. Treinar todos os dias depois de um dia de trabalho, ter os fins de semana ocupados com treinos, para além das viagens para esses treinos, tudo isto tudo tem o seu custo. Desde o custo monetário, ao físico e também social. Mas como “quem corre por gosto não cansa”, isso aplica-se à maior parte do meu tempo. Às vezes quase dou em maluco, e vejo enormes atletas que passam pelo mesmo que eu, como o David Quelhas, Jerôme, entre outros. Atletas que se esforçam, dão o litro, fazem pódios e ganham provas (nacionais e internacionais) e faltam-lhes apoios de marcas e lojas. Tudo lhes saí do pêlo! Merece reflexão.

 

Voltando a Sicó, a minha race report é curta. Desde de janeiro que tenho treinado um novo método de alimentação e no final de janeiro comecei a preparação para a prova de Sicó.

 

Cheguei confiante à prova pois fui completamente “envenenado” positivamente pelo David Quelhas. A prova começou rápida e recuei um pouco para não ir a ritmo louco atrás do Jerome. Corri com chuva, frio e alguma neve durante toda a noite, onde vi a concorrência quase toda a tombar à minha frente.

 

Perdi-me algumas vezes durante a noite (uma parte por culpa própria, mas a sinalização podia estar melhor), depois veio o pior: roubaram as fitas e os refletores. Derivado desta situação andei para atrás e para a frente até que, juntamente com o Carlos Correira, consegui reencontrar o percurso (estivemos mais de 20 minutos perdidos). De referir que a organização não tem culpa mas sim pessoas com maldade.

 

Aos 84km (nos meus 92) já não ia bem fisicamente e mentalmente estava farto da prova. Não sei porquê mas quebrei. Fiz a alimentação certinha e nunca tive fome mas quebrei, e começei a perder lugares.

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Aos 105 ou 106 km da prova veio o martírio. Uma fase praticamente abútrica, e sou sincero, não gostei nada daquilo e achei escusado no final de tantos km e quase no fim haver uma coisa daquelas, fiz aquilo quase tudo a andar. Quem lá esteve sabe do que estou a falar.

 

Acabei em 4º da geral e 3º do escalão. Não era aquilo que queria pois lutei pelo 2º lugar e tentei encurtar o tempo para o Jerome o mais que consegui, mas não deu, o corpo e a cabeça não deixaram. Para além disso o Carlos e o António fizeram um final louco e estão os dois de parabéns.

 

Em termos humanos foi uma prova fantástica com abastecimentos top. Um agradecimento ao Miguel Frutuoso do Coimbra trail, ao senhor Vitorino e ainda ao Miguel Batista pelo apoio nos abastecimentos.

 

Material utilizado em prova: 

Nesta prova usei as minhas Salming t1, mas para provas a ritmo mais elevados não dá para as levar infelizmente.   As meias Injinji Trail que levei são fantásticas e que já se encontram disponíveis na Loja Trail (representantes da Injinji Portugal). Em termos de alimentação, usei as barras paleo da Gold Nutrition e de aveia da Biotec da Loja Girassol. Impermeável da Berg Linx que só posso dizer bem. Frontal, levei um emprestado.

 

E é tudo! Agora venha Lavaredo. Vou ter mais tempo para preparar e que vou fazer tudo para chegar o mais forte possível!